UM



Qualquer coisa que olhemos, para qualquer objeto que apontemos, de tudo diz-se que é...

...é o parque, é a pessoa, é a vida! Tudo é...

...mas você sabe o que é o "é"?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

noção do libertar


   Tu que começas a ler tal arranjo de palavras: sei que tu sabes quem és, tomas a ti mesmo por um nome tão próprio, e já não tem dúvidas que sejas este. "eu sou ....","me chamo ....". "ah, muito prazer ...., sou o ;;;;".

   Sabes, no entanto, que tu mesmo não alcanças te lembrar das tuas vivências intrauterinas, nem daquelas em que tu chupavas os seios da mamãe. Ainda quando tu choravas sem saber falar, ainda quando tu chutavas dentro da barriga da tua progenitora; em todos estes tempos imemoriais que tu não podes negar racionalmente, neles já te encontravas metido na vida, no mundo, muito embora, nem "vida", nem "mundo", nem "eu" e nem "tu", nestes momentos, pudessem fazer-te algum sentido; não importa, deves admitir que todos os sentidos que as palavras, agora, te produzem, não poderias tê-los sem que, necessariamente, estivésseis, antes, palmilhado tuas aventuras de feto, de bebê, de criança.

  Se tu admites que este "eu", por que tu te apresentas e em que tu te acreditas, como aquele que veio surgindo lá desde quando, pra ti, o "eu mesmo" não te fazia sentido algum, então é bom que tu cultives dúvidas e atenções na "utilização" deste teu "eu" por que tu vive e convive no mundo...não te identifiques completamente com este que você, agora, chamas de "eu mesmo".

   Teu "eu mesmo" não é, nem nunca será tu mesmo. Mas, tu mesmo, sem os outros - sem mamãe, sem professores, sem amigos, sem humanos e cultura, sem natureza - simplesmente não consegues construir um "eu mesmo". 
   Esta noção que te acusa como construtor de um "eu mesmo" com o qual, ao ires vivendo e convivendo com outros, te afirmas existente aí, tal noção, sim, é capaz de trazer muito maior flexibilidade e ludicidade no lidar com esta tua construção: o "eu mesmo".
   Sem tal noção, ficas colado no teu "eu mesmo" e dizes: "eu sou eu mesmo". Aí deixas de observar os dinamismos mental-sentimentais dos teus edifícios psíquicos. Aqui, apenas respeitas os pensamentos e sentimentos que teu "eu mesmo" te traz e segues somente afirmando tais estados na convivência para com os outros, na certeza de que tais coisas tu não podes mudar... deixou-te tiranizar pelos condicionamentos que tu mesmo fora construindo desde lá: quando consciência acerca disto não tinhas e nem poderias ter. 

   Agora podes ter tal consciência; construir este edifício "olho que tudo quer ver" dos demais edifícios que, até agora, tu reconheces como "eu mesmo".