UM



Qualquer coisa que olhemos, para qualquer objeto que apontemos, de tudo diz-se que é...

...é o parque, é a pessoa, é a vida! Tudo é...

...mas você sabe o que é o "é"?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

DESCONSTRUÇÃO

  • A pessoa chapada de ilusão presta seu Amor à extração de boas sensações a si, a partir do que lhe é externo.
  • A pessoa fascinada pela lucidez presta seu Amor às melhorias que ela própria pode trazer às suas circunstâncias externas.
  • A pessoa que ora se chapa, ora se fascina, está em franca crise com seus comportamentos de ilusão, por já ter alcançado praticar alguns comportamentos de lucidez.
  A ilusão nasce do pensar-se vítima do mundo, momentos em que entorpeço-me porque interpreto-me só, em meio ao acontecer frenético do viver.
  A fascinação nasce do pensar-se em comunhão com o mundo, realidade em que me encontro, sutileza tão concreta que, no frenesi do viver Terreno, dela esqueço-me. E aí, acabo por tornar-me vulnerável aos rostos sisudos, às brincadeirinhas maldosas, às surpresas desagradáveis da vida, vulnerável enfim, aos convites da ilusão.*

          * àqueles que resistem na sua aparente ruptura com o Todo mundano, pensemos: poderíamos ser vítimas do mundo sem, necessariamente, estar unido, inescapavelmente, unido ao Todo vivencial que nos cerca?

                Lemebre-se pois: "sou um com o Todo!" De minha sensibilidade deste Todo um tanto misterioso, nascem os meus pensamentos e, conseqüentemente, minhas atitudes humanas. E minhas atitudes, extendendo-se aos irmãos humanos e às paragens desta vivência Terrena, formam o reflexo digamos, externo, deste eu que construí para eu mostrar-me. 
                A ilusão mais severa presente em nós do grupo humano-Terreno é a geratriz de todo entorpecimento: a crença infrutífera de que se é o edifício prontinho, quando se é a infinita possibilidade de edificar-se
               
                Não sou uma intimidade que age numa externa existência, a qual, por ser de todos os corpos humanos, diz-me a cultura humana: somente esta "externalidade" existe.
                Sinto-me por dentro, sinto-me por fora! Meus pensamentos organizam minhas atitudes. Meu corpo, meus irmãos humanos e nosso meio natural-cultural dizem dos efeitos de meus atos. Meus sentimentos, que sinto estar no meio deste fluxo recíproco íntimo-externo, convidam-me às revisões tanto de comportamentos mentais, quanto de comportamentos físico-sócio-vivenciais. Sou isto tudo...
                 Ora sinto pesar diante da pretensa seriedade cultural, angustia por estar frente ao, mais ou menos, incerto futuro, ânsia de algo que nem imagino, sinto tristeza pelas mazelas de nossa criação social, a civilidade... para os mais materialistas diria: sinto nó na garganta, frio na barriga, aperto no peito e outras dores ao longo da cabeça à genitália.
                 Mas, ora também sinto-me flutuar na segurança de uma indescritível confiança nesta comunhão com tudo que existe, vejo-me espontâneo na alegria de estar participando deste acontecimento que me une às demais vidas, percebo-me sonhador pela minha simples presença junto aos irmãos de humanidade, porque, de repente, percebo que tanto quanto meus irmãos põem-me a ouvi-los, tanto quanto posso também fazer-me ouvir.
  • E quando, finalmente enxergo-me este que sente não somente o mundo que é o dito externo. Que sente, também, uma intimidade só minha, percebo que sou tudo isto. Sou o que penso, sou os sentimentos que afloram-me, tanto quanto sou este cenário em que aparece meu corpo, os outros irmãos humanos e as outras criaturas desta comunhão, sou tudo isto. 
  • Percebo aí, que basta que mude algo em alguma destas esferas, estáveis em mim digamos, para que haja uma propagação de alterações nas demais esferas desta minha construção íntimo-externa. Sou isto tudo, meio físico, corpo físico, corpo sentimental e mente, sou a dinâmica, dentre estes eixos, existente. Ao aparentemente simples sacudir de uma árvore, muito me altera tal simples fenômeno, ouço o som e, para tanto, minúsculos ossos dentro de minha orelha vibram para que, cientificamente, possa ouvir o ar agitar os galhos e folhas. Meus olhos testemunham o alvoroço alegre desta agitação vegetal. Minha mente, agora, flui para outras idéias quando atento-me à árvore interagindo com o vento, e esta esfera de pensamentos, enormemente interativa, abre-me incontáveis possibilidades, fico livre para acessar, num rápido segundo, lembranças, conhecimentos que por ventura identifique minha intimidade com minha exterioridade imediata.
  • Aliás, estar vivo é estar sujeito às propagações incessantes destas incessantes mudanças. Do que sou intimamente agora, nascem minhas ações que levo à cabo nos meios mais objetivamente sociais de meu mundo, de meu ser.  
  • E se, as pessoas muito pouco alcanço controlar, se as chuvas, ou o sol, não fazem parte de minha decisão efetiva, se minhas doenças as sofro por uma decisão, quase que invisivelmente, indireta, percebo que este íntimo me é muito mais passível de revisão, de crítica, ou melhor, auto-crítica, pois que meus pensamentos, minhas crenças, minhas interpretações das ocorrências vivenciais, isto tudo consigo controlar com muito mais efetividade.
  • Se as pessoas alcançam me alterar os ânimos sentimentais, tanto positiva, quanto negativamente, se muita chuva me põe em tristezas introspectivas, se a dor e o abatimento da doença, minha ou alheia, testam-me o vigor de minha estabilidade sentimental, vejo a vida conversar comigo por estas esferas circunstanciais mais distantes de meu controle, vejo o Todo dizer de minha intimidade, falar-me das condições, das seguranças e riscos de minha construção de reações comportamentais através destas esferas chamadas externas. 
  • Vejo, claramente, particparem da coesão destas esferas a todos objetivamente aparentes, não somente eu, mas meus irmãos humanos, minhas e nossas irmãs, criaturas naturais, e, também, meus e nossos pequeninos irmãos, construtores incansáveis de meu corpo, de seu corpo, de nossos corpos físicos. Através destes seres todos, alheios, tanto quanto cúmplices, de minhas ações mundanas, posso ouvir a fala da Vida acerca de minhas construções íntimas.
  • Conforme os acontecimentos ditos externos, tangenciam esta minha intimidade de convicções, dúvidas mentais, estabilidades e instabilidades sentimentais, posso ir prestando as manutenções ensimesmadas na medida em que vou visualizando as rachaduras, as fragilidades, as iminências de desabamentos enfim, dentre as zonas de meu mundo íntimo.
   A ilusão, portanto, produz-nos este entorpecimento vicioso de querer e ir buscar boas sensações e agradáveis distrações a toda hora, e esta ilusão é produzida dentre nós mesmos irmãos humanos, nossa cultura nos ilude. Nossas conversas uns com os outros, o tom arrogante de nossos "comprovados" conhecimentos, a dinâmica de nossa atmosfera social, tudo nos guia ao mundo de todos. Somos todos levados, desde criança, a prestar atenção à parte visível, observável do múltiplo ser que cada qual é. E prestando atenção em somente aparecer físico-socialmente, esquecemo-nos mormente que somos, cada qual, uma intimidade que necessita de observação e atenção.

   Acabamos assim, por viver uma ruptura inexistente, pensamos estar agindo somente externamente, enquanto se é uma intimidade já acabada. Pensamos, acreditamos mesmo, poder agir somente externamente e, logo, não colocamo-nos em dúvida, não prestamos atenção acerca do que estivemos pensando, sobre como andamos sentindo, nos sentimentos, o acontecer vivencial que nos cerca.
   Atentamos com muito mais intensidade, conhecimento e sensibilidade, às nossas ações externas, e, quando muito, precariamente, cogitamos poder transformar nossos olhos mentais e, conseqüentemente, poder moldar nossos sentimentos.
   Atentando, quase que exclusivamente, ao externo, começamos então, a divisar sucessos e fracassos, erros e acertos, verdades e falsidades, pois utilizamos como parâmetro único a aceitação-negação dos outros. Começamos então, a perder corriqueiramente, oportunidades de aprendizado e, já, de transformação íntima.   

                       ...VIAJE NESTA LUCIDEZ...           

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